Ressonância Schumann

03-10-2010 14:24

Entendendo a ressonância Schumann... 

Pesquisas na internet mostram um artigo muito interessante sobre a ressonância Schumann, publicado por Leonardo Boff, o qual descreve em algumas linhas os efeitos da ressonância Schumann no planeta e no ser humano. O texto fora publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 05 de março de 2004 e conquistou milhares de publicações na internet. Vejamos o referido texto e vamos fazer uma análise científica para verificar a veracidade das evidências ali expostas.

“Não apenas as pessoas mais idosas, mas também jovens fazem a experiência de que tudo está se acelerando excessivamente. Ontem foi carnaval, dentro de pouco será Páscoa, mais um pouco, Natal. Esse sentimento é ilusório ou possui base real? Pela “ressonância Schumann” se procura dar uma explicação. O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por um campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera que fica cerca de 100 km acima de nós. Esse campo possui uma ressonância (dai chamar-se ressonância Schumann) mais ou menos constante da ordem de 7,83 pulsações por segundo. Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Verificou-se também que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma frequência de 7,83 hertz. Empiricamente fez-se a constatação que não podemos ser saudáveis fora desta frequência biológica natural. Sempre que os astronautas, em razão das viagens espaciais, ficavam fora da ressonância Schumann, adoeciam. Mas submetidos à ação de um “simulador Schumann” recuperavam o equilíbrio e a saúde.

Por milhares de anos as batidas do coração da Terra tinham essa frequência de pulsações e a vida se desenrolava em relativo equilíbrio ecológico. Ocorre que a partir dos anos 80 e de forma mais acentuada a partir dos anos 90, a frequência passou de 7,83 para 11 e para 13 hertz por segundo. O coração da Terra disparou. Coincidentemente desequilíbrios ecológicos se fizeram sentir: perturbações climáticas, maior atividade dos vulcões, crescimento de tensões e conflitos no mundo e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido a aceleração geral, a jornada de 24 horas, na verdade, é somente de 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo está passando rápido demais não é ilusória, mas teria base real neste transtorno da ressonância Schumann.

Gaia, esse superorganismo vivo que é a Mãe Terra, deverá estar buscando formas de retornar a seu equilíbrio natural. E vai consegui-lo, mas não sabemos a que preço, a ser pago pela biosfera e pelos seres humanos. Aqui abre-se o espaço para grupos exotéricos e outros futuristas projetarem cenários, ora dramáticos, com catástrofes terríveis, ora esperançadores como a irrupção da quarta dimensão pela qual todos seremos mais intuitivos, mais espirituais e mais sintonizados com o bioritmo da Terra.

Não pretendo reforçar este tipo de leitura. Apenas enfatizo a tese recorrente entre grandes cosmólogos e biólogos de que a Terra é, efetivamente, um superorganismo vivo, de que Terra e humanidade formamos uma única entidade, como os astronautas testemunham de suas naves espaciais. Nós, seres humanos, somos Terra que sente, pensa, ama e venera. Porque somos isso, possuímos a mesma natureza bioelétrica e estamos envoltos pelas mesmas ondas ressonantes Schumann. Se queremos que a Terra reencontre seu equilíbrio devemos começar por nós mesmos: fazer tudo sem estresse, com mais serenidade, com mais amor que é uma energia essencialmente harmonizadora. Para isso importa termos coragem de ser anti-cultura dominante que nos obriga a ser cada vez mais competitivos e efetivos. Precisamos respirar juntos com a Terra para conspirar com ela pela paz.”

(Boff, Leonardo. Jornal do Brasil. 05/03/2004)

O texto sem dúvida nenhuma é muito bonito e comovente, mas não tem nenhuma base científica que comprova tais fenômenos. Deixando de lado o caráter poético apresentado por Boff, vamos apresentar a explicação científica que a questão merece.

Primeiro, vamos entender o que é ressonância.

Ressonância não é propriedade de um corpo. Não faz sentido nenhum, em física, falar em ressonância de um corpo, muito menos de um campo, como diz Boff em sua matéria. Trata-se de uma propriedade ondulatória que envolve a interação de pelo menos dois corpos oscilantes. Todos os corpos possuem uma frequência própria que quando “estimulados” entram em vibração (ressonância). A esta frequência, chamamos frequência natural do corpo, que depende de sua forma e do material de que é constituído. Quando um pequeno estímulo, sensível, induz a um corpo entrar em sua “frequência natural”, dizemos que o corpo entrou em ressonância. Ou seja, para que haja ressonância é preciso pelo menos dois corpos oscilantes em frequências naturais ou múltiplas inteiras entre si. Se um deles é posto a oscilar próximo ao outro, este outro também passará a oscilar espontaneamente, ele entrará, então, em ressonância com o primeiro. 

Ressonância Eletromagnética

A radiação solar e outras fontes cósmicas, como as descargas elétricas na atmosfera, quando atinge nosso planeta, colidem com as moléculas das camadas superiores da atmosfera. Estas moléculas excitadas com a energia da colisão, perdem um ou mais elétrons e adquirem um carga elétrica total diferente de zero, gerando ondas eletromagnéticas com as mais variadas frequências, que de certa forma, ficam presas entre a superfície terrestre e a ionosfera. A ionofesra, como seu nome indica, é uma região da atmosfera com alta densidades de íons (átomos que perderam um ou mais elétrons). Podemos dizer, grosseiramente, que ela se estende de 50 km a 2000 km de altitude. Em um regime estacionário, que ocorre quando não se espera variação abruptas de campos eletromagnéticos, estas ondas eletromagnéticas vibram com uma certa frequência de ressonância, que é a chamada ressonância Schumann.

A detecção de ondas eletromagnéticas era feita por meio de antenas, o que tornava impossível a detecção de tais ondas. Foi então, que em 1952, o físico alemão Winfried Otto Schumann criou um sistema matemático específico para detectá-las. Como as frequências são determinadas de acordo com o modo de vibração, as radiações (ondas) eletromagnéticas apresentam outros picos de ressonâncias em 7,8Hz, 14, 20, 26, 39 e 45 Hz. Assim, não temos uma, mas várias ressonâncias Schumann.

Entretanto, deve-se lembrar que a descoberta do fenômeno é recente, mas o fenômeno não. Portanto, se existe alguma interação entre as ressonâncias Schumann e os seres vivos ela deve ter se mantido praticamente inalterável há séculos e não só agora. De fato, ao longo dos anos, as frequências oscilam levemente, menos de 0,3 Hz, em torno da média, devido à radiação de microondas do sol, porém é uma variação ínfima para ditar tamanhas catástrofes, transformações no mundo e acelerar o tempo, como anuncia Boff. Por essa razão, presume-se que algo notável só poderia ocorrer se o fenômeno apresentasse alguma alteração brusca e relevante, o que não é verdade. Dessa forma, podemos perceber que o texto apresentado por Boff, ou melhor, por sua fonte, o guru Gregg Braden, não tem fundamente científico nenhum, sendo, portanto, uma idéia absurda.

Podemos concluir, então, que do ponto de vista da Física e da Ciência, não há evidência nenhuma de que o tempo está passando mais rápido e o físico W. O. Schumann, com a ressonância Schumann, jamais afirmou tais efeitos, como exposto por Boff em seu artigo. Supor que a passagem do tempo tenha alguma relação com a frequência dessas quase imperceptíveis ondas estacionárias e que essas ressonâncias possam alterar o transcurso natural do tempo é de uma grande ingenuidade.

A essa altura, uma pergunta se faz necessário: por que então temos a falsa impressão de que o tempo está passando mais rápido?...

Já vimos na matéria sobre a viagem no tempo que o conceito que nós temos de tempo é cronológico e linear, porém o seu conceito é muito mais complexo e vai além dessa concepção.

Podemos perceber que o tempo tem várias dimensões. Existe a dimensão material, do relógio, do calendário, das agendas. Quando estamos no meio de um engarrafamento de trânsito em uma cidade grande, por exemplo, cinco minutos se arrastam e parecem muito longos. Mas quando estamos a contemplar um pôr-do-sol, esses mesmos cinco minutos têm valor completamente diferente. Vê-se então que a percepção subjetiva do tempo pode se contrair ou expandir, conforme nosso estado de espírito.

O nosso “tempo” cronológico não mudou em nada, o dia continua tendo 24 horas (para ser mais exato 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 centésimos). Para todas as pessoas o tempo cronológico é o mesmo, mas é percebido de maneira diferente para cada um.

A sensação de que o tempo está passando mais rápido pode estar associado à grande sobrecarga das nossas atribuições, tarefas e rotinas. O problema não é a aceleração do tempo e sim uma aceleração de nossas atividades, compromissos e responsabilidades na luta pela sobrevivência. É a dinâmica imposta pelo capitalismo. São as múltiplas tarefas que temos cada vez mais e mais. É verdade que muitas crianças já estão começando a sentir esse “tempo voando”, isso é lógico e fácil de entender, há alguns anos as crianças eram crianças, tinham tempo para a escola, tempo para brincar, ver TV, e ainda sobrava tempo para ficar à toa, e quando ficamos à toa sentimos o tempo demorar (quando não caímos em rotina)... Hoje as crianças vão para a escola, depois para o curso de inglês, para a natação ou outro esporte, depois para academia... Isso quando não começar a trabalhar cedo demais. Sobra algum tempo para ser criança?... Quando se ocupa todo o tempo, ou melhor, mais tempo do que o “ideal”, é claro que sentimos o tempo voando, “não temos tempo para nada”, na verdade o que fazemos é ocupar demais o nosso tempo...

Os críticos religiosos devem estar justificando que o tempo está passando mais rápido com base em algumas passagens escritas na Bíblia Sagrada. Em Mateus 24:22 diz: “de fato, se não se abreviassem aqueles dias, nenhuma carne seria salva; mas, por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados.” A Primeira Carta aos Coríntios 7:29 também relata: “Digo o seguinte, irmãos: o tempo que resta é reduzido.” Não vamos aqui debater sobre religião, mas ao ler todo o contexto, podemos observar que em nenhum momento Jesus fala que o tempo foi reduzido e que o dia tem menos de 24 horas.

Outra forma de tentarmos entender porque sentimos que o tempo está passando mais rápido é fazendo uma analogia com o tempo de vida de cada pessoa e a proporcionalidade com o tempo total de sua vida. Dessa forma, podemos dizer que a sensação de tempo é inversamente proporcional a nossa idade. Vamos considerar a vida humana em torno de 100 anos para facilitar as contas. Sendo assim, uma criança de um ano terá vivido apenas um por cento do seu tempo, uma criança de 10 anos terá vivido 10% e assim sucessivamente. Outra analogia é notarmos que para uma criança de um aninho chegar ao próximo natal levará um ano como todos nós, mas para ela isto corresponde a tudo que ela já viveu até agora, ou seja, um ano, mas se a criança tem cinco anos o próximo natal corresponderá apenas a 20% do que ela viveu e se tiver 10 anos a penas 10% de sua vida e isso vai diminuindo gradativamente com o tempo. No meu caso, por exemplo, 34 anos, um ano é aproximadamente 3% de minha vida. Assim, temos a falsa ilusão de que o tempo está passando mais rápido, e a cada dia mais rápido ainda...

 

Bibliografia de referência

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Revista Superinteressante – Coleções. Tempo, o eterno movimento. No 143. Agosto de 1999.

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